Wednesday, August 08, 2007

CREPÚSCULO DA VIDA

Eu, numa pedra sentada,
já um tanto musguda,
observava aquele lento caminhar
de uma figura no crepúsculo da vida,
que há muito havia feito a partida,
mas que conservava jovialidade no olhar.

Tinha os trabalhos vincados
nas rugas do seu rosto,
senil, longe de ser mosto,
no seu corpo encurvado,
cambaleante, pela bengala amparado.

Vinha de longe, de muito longe...
e continuava a caminhar...

Mas, vi-o parar.
Parecia-me que algo sacudia.
Talvez o capote que trazia.

Sim.
Estava a sacudir a poeira acumulada
ao longo da grande caminhada.

Tinha o seu fado
nela gravado.

Olhou para trás.
Tinham desaparecido
os seus pesados passos,
na fugacidade dos traços.
O tempo havia morrido!

Baixou o olhar.
Depois voltou-se.
Deu mais umas passadas.
Fazia muito calor.
Escorria-lhe o suor.
Suspirou.
Levou a mão ao bolso.
Um sujo e velho lenço puxou.
Ou farrapo, talvez!
levou-o à testa,
secando-a um pouco.

Afogou nela a sua mágoa.

Esgueirou-se.
Olhou o futuro.

Mais uma vez, lançou
um olhar sobre o passado.
Pela primeira vez, o sorriso se soltou.
Devia estar a recordar
0 bem-aventurado passado,
passado que só a recordação
pode guardar!

Ajeitou o capote.
Novamente sorriu.
E em feliz palpitar,
mesmo a cambalear,
lá se foi, lá partiu.


Fernanda

Sunday, August 05, 2007

ERA UMA VEZ

Era uma vez...
uma vez... a história fez
uma menina de tranças douradas,
com riso de céu e brilho de mar,
que o globo inteiro queria enlançar,
com suas maravilhas pintadas.

Não era uma menina vulgar...
Vinha lá de cima, do luar,
do sonho enorme do seu pequeno universo,
da nobreza de um mágico verso.

Poisou os pés na Terra.
Logo a ouvio lamentar.
Estava amedrontada. Estavam-na a matar.

Sem entristecer,
cortou um pouco da sua trança direita.
Ofereceu-a à Terra.
Esta, desconfiada,
pensava no que a petiz estaria a trambicar.
Mas, a menina, adivinhando o que ela
estava a pensar, acalmou-a:
-Nada tens a temer.
A outra, em palavras meias:
-Obrigada.
Com vozinha doce, a menina:
-Não ma agradeças.
Sei que estás a precisar!
Admirada, ainda duvidou.
Para que seria tamanha generosidade?
Perguntou:
-Serás um anjo do Céu?
Respoudeu:-Só o coração é do tamanho do céu.

A terra ficou desassombrada.
Sentia-se aliviada.
Exclamou:
-Obrigada, nobre menina!
Sem se envaidecer:
-Isso nada é.
Espalharei pedacinhos do meu ouro,
até nada ter.
Rejubilará no Homem vindouro.
O cabelo volta a crescar!


Fernanda